GALATEA ANUNCIA MOSTRAS QUE INVESTIGAM AS PLURALIDADES DE CORPOS E LINGUAGENS ARTÍSTICAS
Da Redação - editorias.obilhetedanoticia@gmail.com
A Galatea inaugura duas novas exposições em São Paulo que reúne trabalhos que se baseiam nas relações de diferentes corporalidades e experimentações artísticas. Na Oscar Freire, apresenta Carvões acesos, coletiva que conecta artistas de diversas regiões e épocas, através temas de como amor, desejo e o magnetismo nas relações humanas. Já a individual Katie Van Scherpenberg: o corpo da obra, na Padre João Manuel, apresenta a produção Scherpenberg que baseou sua pesquisa na investigação da pintura, testando pigmentos naturais, reações químicas e oxidações em matérias. As aberturas serão no dia 27 de março e integram o tradicional Circuito SP–Arte – evento gratuito que antecede a feira e movimenta as galerias de arte e design da capital paulistana.
Idealizada pelo curador, e também sócio-fundador da galeria, Tomás Toledo, Carvões acesos reúne mais de 50 artistas nacionais e internacionais e gira em torno de temas como amor, desejo e paixão em uma proposta transgeracional, transterritorial e transmídia — conta com pinturas, instalações, livros, esculturas, objetos e vídeo de artistas que investigam as tensões afetivas e suas metáforas.
O título da exposição, Carvões acesos, foi emprestado de um poema em forma de receita intitulado Coisas para o ninho, escrito por Patrícia Galvão (Pagú) enquanto estava presa pela ditadura Varguista, cujo manuscrito será exposto na mostra. A noção de algo que persiste na sua escandecência e calor, tal qual um carvão em brasa, permeia a mostra com trabalhos que exploram a tensão sexual e o magnetismo da sedução.
Três núcleos compõem a exposição: Enlaces, Metáforas do amor e Metáforas do sexo. As obras apresentadas exploram a proximidade entre os corpos, a tesão do erotismo, o magnetismo do desejo e múltiplas representações de casais, bem como as elaborações metafóricas e poéticas do amor e expressões ora mais cifradas ora mais explicitas do sexo.
Estão presentes na mostra nomes que conectam gerações e territórios da arte brasileira e também internacional, como Alair Gomes, Allan Weber, Amélia Toledo, Antonio Dias, Chico Tabibuia, Cildo Meirelles, Dani Cavalier, Edgard de Souza, Fefa Lins, Gabriella Marinho, Hudinilson Junior, Ismael Nery, Jonathas de Andrade, Leonilson, Louise Bourgeois, Luiz Roque, Mayara Ferrão, Panmela Castro, Rafael RG, Retratistas do Morro, Rosângela Rennó, Tunga e Wesley Duke Lee.
O curador Tomás Toledo comenta:
“A exposição Carvões acesos reúne trabalhos que abordam de forma mais direta ou mais cifrada os temas do desejo e da paixão, mas, sobretudo, aborda aquela forma de tensão e magnetismo típicos dos sentimos intensos do amor. O projeto iniciou-se por uma afeição minha pela música ‘Fera Ferida’, de Roberto Carlos, e sua estrofe ‘Eu sei, as cicatrizes falam / E as palavras calam / O que eu não me esqueci’, que sempre me remeteu a essa caraterística enigmática e indelével da paixão, algo que se comunica mais pelo corpo do que pelas palavras.”
A individual Katie Van Scherpenberg: o corpo da obra se alinha a um dos fundamentos do programa da Galatea, que envolve resgates históricos e reposicionamento de grandes artistas cuja produção se encontre em certa medida distanciada da cena atual da arte brasileira. A mostra sela o acordo de representação pela Galatea da obra de Katie Van Scherpenberg (São Paulo, 1940), artista que vem contando com renovado reconhecimento e projeção internacional desde que passou a ser representada, em 2019, pela galeria londrina Cecilia Brunson Projects, com a qual a casa brasileira passa a colaborar.
Iniciada há cinquenta anos, a produção de Scherpenberg deriva das suas investigações a respeito da pintura e dos elementos estruturais e simbólicos que a constituem. A artista experimentou toda sorte de intervenção sobre tela e madeira, pesquisando pigmentos naturais, desenvolvendo a própria têmpera, desencadeando reações químicas e examinando as oxidações sofridas por diversos materiais.
Nesse caminho de questionamento da pintura, Scherpenberg chegou à paisagem, passando a intervir com a cor no espaço — na areia, na água, na grama, nas árvores. Ao registrar suas intervenções espaciais, chamadas de landscape paintings, a artista, até então pintora, entra em cena protagonizando performances e evidenciando o lugar do corpo na prática da pintura. O título da exposição, portanto, busca ressaltar a corporalidade na sua obra, que tensiona tanto a plasticidade dos materiais quanto o corpo físico da artista.
A mostra reúne cerca de 25 obras produzidas entre 1982 e 2008, além de trazer uma vitrine que apresenta ao público os registros das intervenções empreendidas pela artista na paisagem e documentos históricos.
Fernanda Morse, pesquisadora e curadora na Galatea, assina o texto crítico da exposição, e comenta:
“Katie Van Scherpenberg é uma artista que não perdeu a infância, ela examina a matéria como a criança que descobre o tato; interage os elementos como a criança que persegue a mágica, que se sonha alquimista ou cientista entre reagentes e tubos de ensaio. O intercâmbio entre o corpo da artista e o corpo da obra é o que anima — dá vida — a sua produção.”
Sobre Katie Van Scherpenberg
Descendente de alemães refugiados de guerra, Katie van Scherpenberg nasceu em 1940, em São Paulo, e passou parte da infância na Inglaterra até retornar ao Brasil em 1946. Na sua juventude, fez viagens de estudos pela Europa, tendo sido aluna de Oscar Kokoschka na Áustria. Dos 26 aos 33 anos, viveu na casa da família na Ilha de Santana, no delta do Rio Amazonas, experiência que deu profundidade às suas investigações pictóricas e pesquisas sobre materiais de pintura.
A partir de 1973, se estabeleceu definitivamente no Rio de Janeiro. Começou a lecionar na EAV do Parque Lage em 1975, ano em que a instituição foi fundada, e seguiu por cerca de três décadas coordenando o núcleo de pintura. Lá, formou diferentes gerações de artistas, tendo entre seus alunos nomes como Beatriz Milhazes. Em 1986, Katie realizou a icônica obra Jardim vermelho, em que cobriu com pigmento de óxido de ferro toda a grama em frente ao palacete do Parque Lage. A intervenção inaugurou o conceito de landscape painting no Brasil e se alinhou a debates mais amplos em torno da land art e da performance. De lá pra cá, realizou outras intervenções marcantes, como Menarca (2007), em que, segundo relato da própria artista, ela “desejou pintar a água e colocou o óxido de ferro diretamente no mar, usando a água como tela”.
Scherpenberg recebeu o prêmio do Salão Nacional de Arte Moderna em 1976, participou da 16ª e 20ª Bienal de São Paulo e apresentou inúmeras individuais no Brasil e no exterior. Entre suas exposições de destaque recentes, estão: Traces: 1968 – 2007 (Cecilia Brunson Projects, Londres, 2023); Yakecan (Parque Lage, Rio de Janeiro, 2022); e Olamapá (Centro Cultural Oi Futuro, Rio de Janeiro, 2019).
Sua obra faz parte de importantes coleções públicas nacionais e internacionais, tais como: Blanton Museum of Art, Austin, Texas; Coleção Patricia Phelps de Cisneros, Nova York; University of Essex Collection of Latin American Art (ESCALA), Essex, UK; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP.
Artistas participantes da coletiva Carvões acesos
Alair Gomes (1921, Valença, RJ - 1992, Rio de Janeiro, RJ), Allan Weber (1992, Brás de Pina, RJ), Amélia Toledo (1926, São Paulo, SP - 2017, Cotia, SP), Antonio Dias (1944, Campina Grande, PB - 2018, Rio de Janeiro, RJ), Artur Barrio (1945, Porto, Portugal), Bauer Sá (1950, Salvador, BA), Boaventura da Silva Filho (Louco) (1929, Itaberaba, BA - 1992, Cachoeira, BA), Chico Tabibuia (1936, Silva Jardim, RJ - 2007, Casimiro de Abreu, RJ) , Cildo Meireles (1948, Rio de Janeiro, RJ), Carlos Motta (1978, Bogotá, Colômbia), Carlos Roberto Gomes da Silva (Betinho) (1959, Tracunhaém, PE), Dani Cavalier (1993, Rio de Janeiro, RJ), Décio Noviello (1929, São Gonçalo do Sapucaí, MG - 2019, Belo Horizonte, MG), Dora Longo Bahia (1961, São Paulo, SP), Edgard de Souza (1962, São Paulo, SP), Farnese de Andrade (1926, Araguari, MG - 1996, Rio de Janeiro, RJ), Fefa Lins (1991, Recife, PE), Gabriella Marinho (1993, Niterói, RJ), Hudinilson Jr (1957, São Paulo, SP - 2013, São Paulo, SP), Ismael Nery (1900, Belém, PA - 1934, Rio de Janeiro, RJ), João da Lagoa (João Francisco da Silva) (1940, Girau do Ponciano, AL - 2009, Lagoa da Canoa, AL), Jonathas de Andrade (1982, Maceió, AL), José Oswald de Andrade Filho (Nonê) (1914, São Paulo, SP – 1972, Guarujá, SP), Julio Callado (1981, Rio de Janeiro, RJ), Katie van Scherpenberg (1940, São Paulo, SP), Leonilson (1957, Fortaleza, CE – 1993, São Paulo, SP), Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul, RS), Louise Bourgeois (1911, Paris, França - 2010, Nova York, Estados Unidos), Marcos Chaves (1961, Rio de Janeiro, RJ), Mayara Ferrão (1993, Salvador, BA), Moacir Faria (196?, Vila de São Jorge, GO), Pablo Accinelli (1983, Buenos Aires, Argentina), Paulo Pires (1972, Poxoréo, MT), Panmela Castro (1981, Rio de Janeiro, RJ), Pagu (1910, São João da Boa Vista, SP – 1962, Santos, SP), Rafael Amorim (1992, Rio de Janeiro, RJ), Rafael RG (1968, Guarulhos, SP), Ramon Alexandre (1992, Fortaleza, CE), Retratistas do Morro: João Mendes (1951, Iapú, MG)/ Afonso Pimenta (1954, São Pedro do Suaçuí, MG), Roberto Magalhães (1940, Rio de Janeiro, RJ), Rochelle Costi (1962, Caxias do Sul, RS - 2022, São Paulo, SP), Rosângela Rennó (1962, Belo Horizonte, MG), Sergio Gurgel (1982, Acopiara, CE), Siron Franco (1947, Goiás Velho, GO), Thiago Honório (1979, Carmo do Paranaíba, MG), Tunga (1952, Palmares, PE - 2016, Rio de Janeiro, RJ), Victor Arruda (1947, Cuiabá, MT), Waldyr Mattos (1916, Rio de Janeiro, RJ - 2010, Rio de Janeiro, RJ), Wesley Duke Lee (1931, São Paulo, SP - 2010, São Paulo, SP) e Yan Nicolas (1997, Belo Horizonte, MG).
Sobre a Galatea
Sob o comando dos sócios Antonia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo, a Galatea conta com dois espaços vizinhos na cidade de São Paulo: a unidade localizada na Rua Oscar Freire, 379 e a nova unidade localizada na Rua Padre João Manoel, 808. A galeria também tem uma sede em Salvador, na Rua Chile, 22, no centro histórico da capital baiana.
A Galatea surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin, que foi sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita, marchand e colecionador especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo, curador que contribuiu para a histórica renovação institucional do MASP, saindo em 2022 como curador-chefe.
Com foco na arte brasileira moderna e contemporânea, trabalha e comercializa tanto nomes consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Idealizada com o propósito de valorizar as relações que dão vida à arte, a galeria surge no mercado para reinventar e aprofundar as conexões entre artistas, galeristas e colecionadores.
Mais Informações:
Carvões acesos
Local: Galatea Oscar Freire
Endereço: Rua Oscar Freire, 379 - Jardins, São Paulo – SP
Abertura: 27 de março | 18h às 21h
Período expositivo: 27 de março a 24 de maio
Horários: terça a quinta das 10h às 19h | Sexta das 10h às 18h | Sábado das 11h às 17h
Katie Van Scherpenberg: o corpo da obra
Local: Galatea Padre João Manuel
Endereço: Rua Padre João Manuel, 808 - Jardins, São Paulo – SP
Período expositivo: 27 de março a 24 de maio
Horários: Segunda à quinta das 10h às 19h | Sexta das 10h às 18h | Sábado das 11h às 17h
Acesse: https://www.galatea.art/
Instagram: @galatea.art_
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