DUDA BEAT MERGULHA NO CAOS DO SENTIR EM "ESSE DELÍRIO"
Da Redação - editorias.obilhetedanoticia@gmail.com - @noticias.emcartaz
Existe um tipo de dor que pulsa bonito. Que lateja em loop, mas vira dança. É desse território, onde o afeto se confunde com obsessão, e o alívio vem logo depois do drama, que nasce “Esse Delírio”, novo EP de Duda Beat.
São sete faixas como sete estágios de um transe emocional: do fogo que cega ao silêncio que cura, passando por cada tropeço, ilusão e quase-amor que a gente insiste em chamar de destino. Duda não tenta organizar o caos, ela o abraça, o embala, o transforma em arte pop, urbana e profundamente sensível.
Assinado pelo duo de produtores Lux & Tróia, parceiros de longa data da artista, o EP mistura texturas sonoras contemporâneas com a potência da artista e o mergulho profundo em sua liberdade criativa. “Esse Delírio” é um projeto feito com compromisso afetivo, que valoriza os sonhos, mesmo os que não se realizaram. Duda vive esse momento como quem está em transe: compondo a partir de sensações que não aconteceram no mundo real, mas deixaram marcas como se tivessem sido vividas. Entre delírios e parcerias, ela constrói um trabalho que não pede explicação, apenas espaço para sentir.
“Esse EP é sobre sonhos reais, coisas que eu não vivi, mas que ficaram em mim como se tivessem acontecido. Eu sou uma pessoa que, quando sonha, parece que está vivendo de verdade”, explica Duda. “Tem gente que sonha com coisas malucas, aleatórias, sonha com Bob Esponja numa onda de refrigerante, mas eu não. Meus sonhos são reais demais. Sou eu andando na rua, sou eu na praia, sou eu encontrando alguém. Acordo com a sensação de que vivi aquilo. Quando falo de sonho real, é sobre isso.”
É a partir desse limiar entre o que se vive e o que se sonha que “Esse Delírio” toma forma, como se cada faixa fosse um fragmento de sensação, uma memória inventada, mas intensamente sentida.
“Você Vai Gostar” abre o delírio como um grito. O beat é quente, o sarcasmo é nítido e o veneno é servido com elegância. A parceria com a rapper AJULIACOSTA é um convite para assistir, em primeira fila, o fim de uma paixão que foi vivida em carne viva e terminou em fogo cruzado. Aqui, Duda se diverte com sua própria dor, e faz dela performance.
“Nossa Chance”, o primeiro single lançado, é a vertigem do quase. Com participação de TZ da Coronel, a faixa propõe um jogo sensual entre a fantasia e o desejo, aquele flerte que não se concretiza, mas deixa marcas como se tivesse acontecido. O baixo brilhante de Alberto Continentino, músico consagrado que já colaborou com nomes emblemáticos da MPB como Caetano Veloso, Nana Caymmi, Beto Guedes e Cássia Eller, reforça a sofisticação sonora da música. Tudo nela vibra entre o imaginado e o sentido: o clipe, a estética, os versos.
A faixa nasce da solidão, mas não é só melancólica: ela também tem cor, gosto, cheiro de mar. Em “Fuga” Duda, quase que em uma confissão crua de quem se recusa a lidar com o real, inventa um universo onde pode amar livremente.
Logo depois, “Pessoa Errada” é o retrato dançante de um tropeço do coração. Com batida de discoteca e synths que brilham como luz estroboscópica, a faixa transforma o drama do amor mal endereçado em catarse coletiva. Fala de insistir no erro com quem a gente já sabe que não vai dar certo, mas, ainda assim, deseja. É uma sofrência que não se arrasta: ela se veste de glitter, ganha corpo na pista e vira movimento. Duda canta o fim como quem dança um recomeço.
Em “Foi Mal”, parceria com os Boogarins, o delírio ganha ar psicodélico. Aqui não há promessas nem vingança, só a névoa do depois. O amor se esfarela em camadas de som que misturam o real com o devaneio. É sobre o momento em que se percebe que tudo desandou, mas já é tarde demais para impedir.
Por fim, “Casa” aparece como um suspiro no meio do furacão. É refúgio, recolhimento, desejo de paz depois do excesso. Um dos momentos mais delicados do EP, essa faixa soa como uma conversa consigo mesma: mais do que querer alguém, é querer voltar a si. Com produção minimalista, ela encerra o EP com doçura, como quem aprende que não precisa correr pra estar bem, às vezes, basta ficar. É uma despedida suave, que não fecha portas, mas convida à introspecção. A pista ficou pra trás, mas a batida continua dentro.
“Esse Delírio” é mais do que um projeto de transição entre álbuns, é um documento afetivo, uma travessia musical e sensorial entre a fantasia e o real, entre o desejo e o desapego. Duda Beat assina, mais uma vez, uma obra que não teme a exposição dos próprios fantasmas, e os transforma em beleza, groove e poesia.
Um EP para ouvir quando se ama demais, quando se odeia um pouco, quando não se entende nada, ou quando se precisa lembrar que sentir, mesmo em desordem, é uma forma de existir por inteiro.
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