NOVA PEÇA-PALESTRA DE RONALDO SERRUYA, CHECHÊNIA: UM ESTUDO DE CASO, REFLETE SOBRE A EXISTÊNCIA QUEER NO BRASIL

Da Redação - editorias.obilhetedanoticia@gmail.com - @noticias.emcartaz

Em 2017, por meio da imprensa e das redes sociais, o mundo descobriu a existência de prisões exclusivas para homossexuais na República da Chechênia, na Europa Oriental. Pensando nisso, o dramaturgo, ator e pesquisador Ronaldo Serruya (Grupo XIX e Teatro Kunyn) criou sua nova peça-palestra: CHECHÊNIA: um estudo de caso, que faz temporada no Teatro Mínimo do Sesc Ipiranga, com sessões entre os dias 15 e 31 de agosto, às sextas, às 21h30, e sábados e domingos, às 18h30. Serão realizadas nove apresentações ao todo.

Assim, partindo da pergunta “Quantas Chechênias existem no Brasil?” e rememorando fatos da sua infância queer em uma família tradicional judia, Serruya escreveu uma história ficcional imaginando, em detalhes, o cotidiano de um confinamento dessa natureza.

“Desde ‘A doença do outro’, indicado ao Prêmio Shell de melhor texto em 2023, tenho pesquisado o conceito de peça-palestra. Para mim, isso significa convidar o público para uma conversa. Nesse sentido, a dramaturgia se estabelece como o ponto de partida para discutir um determinado tema. Na prática, tudo parece improviso, mas não é. Na verdade, cada detalhe foi cuidadosamente pensado”, explica o artista.

Sobre a encenação

CHECHÊNIA: um estudo de caso, portanto, convida a plateia a pensar sobre os mecanismos da homofobia institucional presentes nas estruturas políticas do mundo todo, inclusive no Brasil. Durante a encenação, personagem e ator-palestrante se confundem, em um jogo que brinca o tempo todo com a metalinguagem.

"Em um primeiro momento, pode parecer estranho comparar Brasil e Chechênia, já que lá, o próprio governo legitima e estimula a violência contra a população LGBTQIAPN+, algo que não acontece aqui. No entanto, o Brasil é um dos países que mais mata LGBTS no mundo e temos que falar sobre isso”, comenta Serruya.

Assim, para fazer o paralelo entre esses dois contextos, o dramaturgo construiu uma espécie de clínica de reabilitação dedicada à cura gay, imaginando como seria o cotidiano de um checheno homossexual, vivendo em um campo de concentração após ser perseguido por ser quem é.

“Porque eu me comportava dessa maneira, porque eu gesticulava as mãos exageradamente quando eu falava? Porque as minhas mãos mexiam como as da minha mãe?”

Trecho da dramaturgia de CHECHÊNIA: um estudo de caso

O jogo entre realidade e ficção é reforçado com elementos audiovisuais. Sol Faganello, que faz a direção das imagens e codirige junto com Serruya, está sempre em cena, com uma câmera na mão, construindo, ao vivo, imagens que friccionam esses dois mundos.

Conforme a narrativa avança, a violência se intensifica, até um ponto em que Serruya não consegue mais continuar. “O que eu realmente espero é mostrar para a plateia que não podemos mais construir histórias que se apaziguem com a mera explicitação da tirania e da opressão. Precisamos inventar algo que extrapole isso”, afirma.

“Se a gente consegue imaginar, se a gente consegue conceber a ideia de uma coisa, essa coisa passa a ser passível de existência, ela se torna concreta.”

Trecho da dramaturgia de CHECHÊNIA: um estudo de caso

Seu protagonista, então, aproveita a oportunidade para recriar a sua infância. “Se, no passado, essa criança foi interditada, no presente, no teatro ela terá a chance de ser livre”, acrescenta.

Teatro Mínimo

Importante espaço de experimentação da cidade de São Paulo criado em 2011 pela equipe de programação do Sesc Ipiranga, o Projeto ‘Teatro Mínimo’ foi concebido com o objetivo de apresentar temporadas de espetáculos teatrais que discutem a experimentação das linguagens cênicas, por meio de encenações focadas no trabalho de atuação, em proximidade e na relação direta com a plateia.

Sinopse

CHECHÊNIA: um estudo de caso - Um ator-palestrante propõe um jogo imaginativo: como países distantes podem compartilhar a mesma fronteira simbólica? A partir de uma distopia inspirada em fatos reais, ele mistura ficção e autobiografia para denunciar a homofobia institucional e afirmar a alegria como ato revolucionário de resistência e reinvenção. No caso, a da violência engendrada pela homofobia institucional. Para isso, o ator-palestrante parte das notícias reais sobre a existência de prisões para homossexuais na República da Chechênia em pleno século XXI, para criar uma ficção distópica que é atravessada, a todo tempo, por sua própria história, revelando os meandros violentos por onde essa homofobia institucional se insinua na vida de pessoas dissidentes de gênero. Mas, em algum momento, a ficção precisa ser recusada para que a própria história do ator-palestrante seja reinventada e, assim, o ciclo da violência se torne obsoleto e não mais se perpetue. Afirmar a alegria e a viabilidade da vida é o caminho mais revolucionário para se falar, hoje, sobre a dissidência.

Ficha técnica

Concepção, direção, dramaturgia e atuação: Ronaldo Serruya

Co-direção e criação audiovisual: Sol Faganello

Desenho de luz: Paloma Dantas

Direção de arte: Clau Carmo

Designer Gráfico: Rafael Fortes

Trilha sonora original: Camila Couto

Produção: Corpo Rastreado - Gabs Ambròzia e Andrea Marques

Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes

Mais Informações:

CHECHÊNIA: um estudo de caso

Data: de 15 a 31 de agosto de 2025

Horários: às sextas, às 21h30, e, aos sábados e domingos, às 18h30

Projeto Teatro Mínimo - Auditório - Sesc Ipiranga - Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo, SP

Ingressos: R$50 (inteira), R$25 (meia-entrada) e R$15 (credencial plena)

Ingressos disponíveis a partir de 5/8, às 17h no aplicativo Credencial Sesc SP, site centralrelacionamento.sescsp.org.br e a partir de 6/8, às 17h, presencialmente nas bilheterias das unidades do Sesc SP.

Classificação: 16 anos Duração: 70 minutos

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